Na apresentação do relatório da comissão independente de avaliação do Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior (RJIES), o seu presidente, Alberto Amaral, sugeriu a fusão do Instituto Politécnico da Guarda – IPG com a Universidade da Beira Interior e do Instituto Politécnico de Portalegre com a Universidade de Évora.
O pretexto, por ironia, até é bom – criar instituições mais flexíveis que juntem à oferta de ensino politécnico o ensino universitário. Sendo o pretexto bom, então deveria ser prescrito, por maioria de razão, às grandes instituições como as universidades de Lisboa e do Porto e os respetivos politécnicos: porque é que estes não se fundem e não levam o ensino superior a tantos concelhos com jovens e falta de oferta formativa como Sintra, Mafra ou Loures – ou Gondomar, Valongo ou os concelhos do Tâmega e Sousa?
O exemplo deve sempre vir de cima – e quem melhor para o dar que o próprio Alberto Amaral, que foi reitor da Universidade do Porto entre 1985 e 1994?
No entanto, não foi às universidades do Porto e de Lisboa que Alberto Amaral se dirigiu, incentivando-as a criarem sinergias com os politécnicos vizinhos. Foi a duas instituições que são baluartes da ciência e do conhecimento em territórios periféricos, despovoados e envelhecidos. Duas instituições – o Politécnico da Guarda e o Politécnico de Portalegre – que se tornaram, não só símbolos identitários das respetivas cidades e territórios, mas, também, as suas principais fontes de atração de jovens, de fixação de população qualificada e de ligação ao tecido empresarial, às instituições sociais e aos produtores de cultura regionais.
Em vez de propor a racionalização do ensino superior nas duas áreas metropolitanas, Alberto Amaral preferiu sugerir a decapitação e a diluição das principais fontes de inovação, de atração de investimento e de população fixa e flutuante de duas das mais frágeis regiões de Portugal. Não o terá feito por mal – mas reproduziu uma das principais doenças nacionais e, seguramente, o maior obstáculo ao desenvolvimento equilibrado e coeso do país: o centralismo.
Apesar da sua dimensão, o Politécnico da Guarda foi das instituições que nos últimos anos mais cresceu em alunos no país. E se há sítio em que esses estudantes são precisos é precisamente ali, no território de montanha, interior e transfronteiriço do distrito da Guarda! Se há uma boa relação preço-qualidade na utilização do dinheiro público neste país é cada cêntimo que o Orçamento do Estado transfere para o IPG: nenhuma outra instituição cumpriria de forma tão barata e eficiente a missão de qualificar esta população e território!
Não há – não existe! – melhor política de coesão nacional e de desenvolvimento do Interior do que o ensino superior. É por isso absurdo o Governo que agora cessa ter limitado tão drasticamente a possibilidade de os politécnicos do Interior recrutarem alunos estrangeiros. Esses alunos, não só vivificam as comunidades durantes os seus estudos, como são moradores potenciais (e qualificados) para se fixarem naquelas regiões.
Não há política mais cega do que limitar, apequenar, diluir as instituições de ensino superior no Interior.