O ensino superior português deu saltos muito importantes nestes anos, contribuindo para tornar o país mais competitivo a nível internacional. Mas há ainda bloqueios que o impedem de contribuir para o desenvolvimento global de Portugal com uma eficiência semelhante à que se verifica noutros países da União Europeia.
Os obstáculos atuais prejudicam, sobretudo, as universidades e os politécnicos sediados no Interior. É um contrassenso, uma vez que é precisamente nas regiões periféricas que as instituições de ensino superior (IES) – o seu potencial transformador de conhecimento e de inovação – produzem desenvolvimento sustentável de forma mais rápida, mais exuberante e com menos custos.
Investir no ensino superior no Interior é a forma mais inteligente e estrutural de promover a coesão territorial. Cria mais riqueza e fixa mais pessoas um Politécnico do que uma autoestrada ou uma fábrica: aliás, nada atrai mais empresas do que a proximidade de uma IES. Estas capacitam de uma forma dirigida a mão-de-obra qualificada de que as empresas precisam – e fazem investigação e desenvolvimento por medida para apoiar o esforço empresarial de inovar nos bens e serviços.
Não se percebe, por isso, que em Portugal não seja óbvio o que já é prática antiga, e com benefícios comprovados, noutros países da Europa. O Politécnico da Guarda passou, em novembro, a ser membro de pleno direito da Unita – Rede de Universidades Europeias, uma aliança que une IES de Espanha, França, Itália, Roménia e Portugal que têm em comum a localização em zonas transfronteiriças e de montanha. Nesta passagem para “universidade europeia”, o Politécnico da Guarda constatou que todas as suas congéneres públicas beneficiam de políticas agressivas de discriminação positiva por parte dos governos pelo facto de estarem em regiões periféricas. No caso da Roménia, à dotação do Orçamento do Estado que cada universidade recebe, soma-se a atribuição de um euro do erário público por cada euro conseguido em verbas europeias para financiar atividades de ensino, de investigação e de transferência de conhecimento.
Este tema tem de merecer a atenção dos partidos políticos que vão concorrer às eleições legislativas de 10 de março – e deve integrar os seus programas eleitorais! Não faz sentido prometer quase tudo a quase todos durante a campanha… e, ao mesmo tempo, esquecer aquela que podia ser a melhor política social para metade do país.
Os líderes partidários têm de compreender que é profundamente negativa a limitação atual à vinda de estudantes estrangeiros para os politécnicos do Interior: são milhares de estudantes que podiam ser integrados e aculturados pela frequência do ensino superior que deixam de vir para estas regiões; e são milhares de potenciais imigrantes que deixam de qualificar e de enriquecer as cidades portuguesas distantes dos grandes centros.
O atraso do financiamento da ciência também deve ser tema da campanha eleitoral. Ao Politécnico da Guarda, outro exemplo, foi-lhe atribuído um financiamento de 1,3 milhões de euros pela Fundação para a Ciência e Tecnologia – FCT para o laboratório colaborativo em Logística, o CoLAB LogIN, tendo em vista o futuro Porto Seco da Guarda. Já passou mais de ano e meio e a FCT ainda não transferiu um cêntimo… Mas, ao mesmo tempo, anda a financiar três universidades americanas com 20 milhões por ano, quase tanto quanto transfere para todo o sistema científico nacional!
A ciência tem de fazer parte do debate eleitoral, pois não há instrumento melhor do que ela para transformar o país. Mas a ciência não se faz sozinha, ou melhor: as instituições de ensino superior não a conseguem fazer se não tiverem (mais um exemplo) residências estudantis. É incompreensível que se continuem a construir tantas residências em Lisboa e que à Guarda seja negado o alojamento para estudantes de que tanto precisa.
Aproximar as pessoas da política é dar-lhe os instrumentos de que elas precisam para melhorarem as suas vidas. O ensino superior no Interior é um desses instrumentos. O melhor elevador social que existe.