Os estudantes do Instituto Politécnico da Guarda – IPG que se envolveram em 2023 num projeto para promover a saúde mental na comunidade académica no período pós-Covid-19, “aumentaram a sua capacidade de autorregulação emocional e de experimentar sentimentos de compaixão e preocupação pelo outro em relação ao período da pandemia” através da sua participação na iniciativa. Em sentido inverso, “diminuíram os seus níveis de ansiedade, apreensão e desconforto em contextos interpessoais de tensão”.
Estes são resultados do projeto “Desejar-Comunicar-Agir (D-C-A)”, o qual envolveu workshops, tertúlias, atividades desportivas e artísticas. A iniciativa contou com o apoio da Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP), o patrocínio da Presidência da República e o financiamento de 32 mil euros da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD).
Ao longo deste projeto, os 208 estudantes que participaram responderam a questionários sobre comportamentos de saúde ecompetências socio-emocionais. Inspirado nos cinco F’s da Guarda, a experiência foi desenvolvida pelo Gabinete de Apoio Psicológico (GAP) do Politécnico da Guarda, e incluiu atividades agrupadas em cinco eixos: “Saúde Farta”; “Literacia em Saúde Fiel”; “Atividade Lúdica e Desportiva Fria”; “Cidadania Forte”; e “Arte Formosa”.
“O grande objetivo deste projeto foi desenvolver nos estudantes competências de comunicação, de gestão do stresse e de resiliência, e, consequentemente, combater sintomas de depressão e ansiedade que se tinham acentuado no período da Covid-19”, afirma Odília Cavaco, professora e investigadora da Escola de Saúde do IPG e coordenadora do Gabinete de Apoio Psicológico. “Os resultados obtidos apontam claramente para a importância de atividades extracurriculares, as quais favorecem o desenvolvimento das chamadas ‘soft skills’, competências fundamentais para um desenvolvimento completo do estudante enquanto pessoa e cidadão”.
As respostas ao questionário de saúde permitiram concluir que a maioria dos alunos participantes no projeto se sente atualmente “feliz com a sua vida e consigo próprio” e “não sofre de ansiedade nem de solidão”. A maior parte dos inquiridos declarou receber apoio dos amigos, sentir-se satisfeito com a sua capacidade de trabalho e não ter dificuldades de concentração. Os estudantes consideram que, após a entrada no ensino superior, mantiveram na sua vida académica o mesmo estilo de vida saudável que tinham antes – ou até o melhoraram.
O questionário de saúde permitiu ainda perceber que bastantes estudantes não praticam exercício físico de forma regular, apesar de se preocuparem com a sua imagem corporal. A maioria considera ter uma alimentação saudável, dormir bem e o número de horas suficiente, apesar de haver também bastantes que consideram que o seu padrão de hábitos de sono se alterou, tendo passado a ter dificuldades em dormir. Relativamente a consumos, a maioria não fuma, não consome bebidas alcoólicas a não ser quando sai à noite, nem bebe café. Muitos, porém, já recorreram a calmantes ou a medicamentos para dormir. Dados que o GAP terá em conta em futuras iniciativas.
As competências socio-emocionais, autorregulação emocional, adaptabilidade e empatia, foram avaliadas antes e depois da participação dos estudantes em atividades de maior duração (6, 8 ou mais semanas) – como um curso de língua gestual portuguesa, sessões semanais de dinâmicas de grupo denominadas “Emotional Program”, o programa “Riscos & Desafios” e atividades artísticas (representação, música e artes plásticas).
Segundo a coordenadora do GAP, Odília Cavaco, “houve um aumento significativo nos níveis de adaptabilidade dos participantes, em todas as suas dimensões – preocupação, controlo, curiosidade e confiança”. Para a coordenadora, “isto significa que, após as atividades, os estudantes se percecionaram como mais capazes de utilizar recursos à sua disposição no processo de construção das suas próprias carreiras”. De igual modo, “também aumentaram significativamente as capacidades de atenção e autoconsciência, fundamentais para a regulação das emoções. Relativamente à capacidade de empatia, os jovens estudantes passaram a percecionar-se como tendo mais facilidade de ver o ponto de vista dos outros, de se preocuparem mais com as necessidades dos outros, e de um modo especialmente significativo, sentirem muito menos desconforto em contextos interacionais tensos”.
Grande parte das atividades do projeto foram organizadas por estudantes. Quando se comparou as respostas aos questionários dos estudantes-organizadores com os estudantes-participantes (aqueles que tiveram uma intervenção mais pontual ou apenas assistiram), os primeiros apresentaram valores mais altos, em particular, nos níveis de autorregulação emocional. “Isto mostra-nos como a interação é crucial para a autorregulação interna”, afirma Odília Cavaco. “Daí a importância de os estudantes se implicarem ativamente em demandas que impliquem colaboração, partilha, negociação e interdependência”. O projeto “Desejar-Comunicar-Agir (D-C-A)” foi um dos três vencedores da primeira edição do “Programa de Promoção da Saúde Mental no Ensino Superior”, juntamente com projetos da Universidade da Madeira e do Instituto Politécnico de Viana do Castelo.