As empresas portuguesas só aumentarão de forma estrutural a sua produtividade quando passarem a interagir mais com o ensino superior! Esta tese defendida por Pedro Saraiva, vice-reitor da Universidade Nova de Lisboa, no Encontro Nacional “Universidade: Chave para o Futuro” de dezembro, é determinante para o desenvolvimento do Interior de Portugal nos próximos anos: a articulação com os politécnicos e com as universidades das regiões periféricas são a única forma direta de as empresas distantes de Lisboa e do Porto poderem competir em igualdade de circunstâncias (ou até em vantagem) com as suas concorrentes em Portugal e no estrangeiro.
A vantagem da colaboração com o ensino superior é muito superior para as empresas de zonas menos povoadas, as quais poderão juntar os benefícios dos menores custos de contexto à igualdade (ou vantagem) no acesso à ciência e à inovação. Vale a pena observar a Roménia, um país menos desenvolvido do que Portugal, mas que, em breve, nos ultrapassará no PIB per capita, tal como o Expresso noticiou.
Portugal está em 23º lugar no ranking da produtividade dos 27 países da União Europeia, seis lugares atrás da Roménia, empatado com a Letónia e com a Eslováquia e apenas à frente da Hungria, da Grécia e da Bulgária. Em média, o valor gerado por 40 horas de trabalho em Portugal equivale a 13 horas de trabalho na Irlanda, a 17 horas no Luxemburgo ou a 22 na Bélgica, a 31 horas em Espanha… e a 35 horas na Roménia.
Portugal até não compara mal no ranking da OCDE das empresas com atividades de inovação associadas ao seu negócio: cerca de 50% das empresas portuguesas produzem inovação. Onde o nosso país baixa vertiginosamente é na percentagem de empresas que o fazem em articulação com o ensino superior: menos de 10%.
É precisamente neste indicador que a Roménia está melhor do que Portugal: a interação com o ensino superior para produzir inovação e ganhar competitividade envolve cerca de 20% do tecido industrial — o dobro da percentagem portuguesa! Na Roménia a colaboração com politécnicos ou universidades está na base de significativos aumentos de produtividade por parte das empresas, bem como da competitividade dos seus bens e serviços no mercado global.
Em Portugal esta constatação começa a dar passos: em 2022 empresas nacionais e locais de logística associaram-se ao Politécnico da Guarda para montarem o Laboratório Colaborativo em Logística CoLAB LogIN, projeto ao qual a Fundação para a Ciência e Tecnologia — FCT atribuiu alta classificação e 1,3 milhões de euros de financiamento. Em breve este laboratório e as empresas associadas estarão na vanguarda da logística internacional — e, seguramente, o futuro Porto Seco da Guarda será um case study.
O desenvolvimento de Portugal deve passar por aqui. Esta deve ser a chave para travar e inverter a desertificação do Interior, uma vez que a difusão de conhecimento por parte dos politécnicos no Interior, a sua translação e interação com a sociedade e com as empresas poderão garantir a atração de pessoas e a sua fixação com bons níveis de vida em cidades magníficas, longe de áreas metropolitanas saturadas.